segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

OS OLMOS

XXVII


“As folhas rebentam. Em breve a galeruca, que é uma pequena lagarta verde, vai instalar-se nas folhas do olmo e as devorará. A árvore será como que privada dos seus pulmões. Vai ver, para resistir à asfixia, crescerem novas folhas e a primavera viver uma segunda vez. Mas estes esforços vão esgotá-la. Um ano após outro, verá que não vai conseguir estender as suas novas folhas, e morrerá.”

Assim gemia um amigo das árvores, enquanto nos passeávamos no seu parque. Ele mostrava-me olmos centenários e anunciava-me o seu fim próximo. Disse-lhe: “É preciso lutar. Esta pequena lagarta verde não tem força. Se se pode matar uma, podem-se matar cem e mil.”

“O que é um milhar de lagartas? Respondeu ele. Há milhões, Prefiro não pensar.” “Mas, digo-lhe eu, você tem dinheiro. Com o dinheiro compram-se dias de trabalho. Dez trabalhadores laborando dez dias matarão mais de um milhar de lagartas. Não é capaz de sacrificar algumas centenas de francos para conservar estas belas árvores?”

“Tenho demasiadas, disse ele; e tenho poucos trabalhadores. Como alcançarão os ramos altos? Seriam precisos podadores. Só conheço dois na terra.”

“Dois, digo-lhe eu, é já alguma coisa. Eles vão ocupar-se dos ramos altos. Outros, menos hábeis, vão servir-se de escadas. E se você não salvar todas as suas árvores, salvará pelo menos duas ou três.”

“Falta-me a coragem, disse por fim. Eu sei o que vou fazer. Vou-me daqui por uns tempos, para não ver esta invasão de lagartas.”

Ó poder da imaginação, respondi eu. Ei-lo derrotado antes de ter combatido. Não olhe para além das suas mãos. Nunca se agiria, se se considerasse o peso imenso das coisas e a fraqueza do homem. É por isso que é preciso agir e pensar a sua acção. Veja este pedreiro; ele roda tranquilamente a sua manivela;  a enorme pedra quase não se mexe. No entanto a casa será acabada, e haverá crianças a saltar nas escadas. Admirei outrora um operário que se instalava com o seu berbequim, para furar uma muralha de aço que tinha bem uns quinze centímetros de espessura. Ele rodava o seu instrumento assobiando; as finas lascas de aço tombavam como uma neve. A audácia deste homem impressionou-me. Já lá vão dez anos. Esteja seguro que ele furou esse buraco e muitos outros. As próprias lagartas nos dão a lição. O que é uma lagarta comparada com um olmo? Mas todas essas pequenas dentadas devorarão uma floresta. É preciso ter fé nos pequenos esforços e lutar como um insecto contra o insecto. Mil  causas trabalham por si, sem as quais não haveria olmos. O destino é instável;  um piparote cria um mundo novo. O mais pequeno esforço arrasta sequelas sem fim. Aquele que plantou estes olmos não deliberou sobre a brevidade da vida. Lance-se como ele na acção sem olhar mais longe do que os seus pés, e salvará os seus olmos.”


Alain
(Tradução de José Ames)

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