quarta-feira, 11 de abril de 2012

VIAGENS

LII


Neste tempo de férias, o mundo está cheio de pessoas que correm dum espectáculo a outro, evidentemente com o desejo de verem muitas coisas em pouco tempo. Se é para falar disso, nada melhor; porque vale mais ter vários nomes de lugares a citar; isso enche o tempo. Mas se é para eles, e para realmente verem, eu não os compreendo bem. Quando se vêem as coisas a correr elas parecem-se muito. Uma torrente, é sempre uma torrente. Assim, aquele que percorre o mundo a toda a velocidade não é de todo mais rico de recordações no fim do que no princípio.

A verdadeira riqueza dos espectáculos está no detalhe. Ver, é percorrer os detalhes, parar um pouco em cada um e, de novo, apreender o todo com um olhar. Não sei se os outros podem fazer isso depressa, e correr a outra coisa, e recomeçar. Quanto a mim, não o poderia. Felizes os de Rouen que, cada dia, podem olhar todos os dias uma coisa tal e aproveitar de Saint-Ouen, por exemplo, como dum quadro que se tem em casa.

Enquanto se se passa num  museu uma única vez, ou num país de turistas, é quase inevitável que as recordações se confundam e formem enfim uma espécie de imagem cinzenta de linhas baralhadas.

Para o meu gosto, viajar, é fazer de cada vez um metro ou dois, parar e olhar de novo um novo aspecto das mesmas coisas. Muitas vezes, ir-se sentar um pouco à direita ou à esquerda muda tudo, e muito melhor do que se fizesse cem quilómetros.

Se vou de torrente em torrente, encontro sempre a mesma torrente. Mas se vou de rochedo em rochedo, a mesma torrente torna-se outra a cada passo. E se volto a uma coisa já vista, na verdade ela prende-me mais do que se  fosse nova, e realmente ela é nova. Trata-se apenas de escolher um espectáculo variado e rico, a fim de não adormecermos no hábito. É preciso dizer ainda que, à medida que se sabe ver melhor, um espectáculo qualquer encerra alegrias inesgotáveis. E depois, de todo o lado, podemos ver o céu estrelado; eis um belo precipício.


Alain
(Tradução de José Ames)

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